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MARCO SOUSA
1 - INTRODUÇÃO
Os
cristãos que se utilizam das pregações de Spurgeon como baluarte nem sempre aplicam
tudo quanto aquele pregador ensinava. Para Spurgeon ninguém pode alterar o sentido daquilo que está escrito na palavra de Deus e aquilo
que os homens não sabem ou não entendem deve pertencer exclusivamente à
economia de Deus. Este é um ponto positivo (e muito positivo) de Spurgeon.
Ler livros ou sermões é
como comer peixes, é preciso saber separar os espinhos. As pessoas são influenciadas pelo calvinismo, pelo arminianismo, por Spugeon e por
tantos outros ícones da história cristã, sem o domínio da tarefa de separar os
espinhos. O resultado é o discurso religioso improdutivo, que serve somente para causar briga nas redes sociais.
2 - OS ACERTOS DE SPURGEON
2.1 - EXPONDO ERROS
DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA DO CALVINISMO
“E então? Tentaremos colocar um outro sentido no texto
além do que já tem? Penso
que não. Precisa-se, para a maioria de vocês, conhecer o método comum com qual
os nossos amigos Calvinistas mais velhos lidaram com esse texto. ‘Todos os
homens,’ dizem eles, -- ‘quer dizer, alguns homens’: como se o Espírito Santo
não poderia ter falado ‘alguns homens’ se quisesse falar alguns homens. ‘Todos
os homens,’ dizem eles; ‘quer dizer, alguns de todos os tipos de homens’: como
se o Senhor não poderia ter falado ‘Todo tipo de homem’ se quisesse falar isto.
O Espírito Santo através do apóstolo escreveu ‘todos os homens,’
e sem
dúvida quer dizer todos os homens. Estava lendo agora mesmo uma exposição
de um doutor muito apto o qual explica o texto de tal forma que muda o sentido;
ele aplica dinamite gramatical no texto, e explode o texto expondo-o … O meu
amor pela consistência com as minhas próprias doutrinas não é de tal tamanho
para me autorizar a alterar conscientemente um só texto da Escritura. Respeito
grandemente a ortodoxia, mas a minha reverência para a inspiração é bem maior.
Prefiro aparecer cem vezes ser inconsistente comigo mesmo do que ser
inconsistente com a palavra de Deus” (C.H. Spurgeon, Metropolitan Tabernacle Pulpit, 1 Timothy 2:3,4,
vol. 26, pp. 49-52).
“Que Deus predestina, e que o homem é responsável, são duas coisas que
poucos enxergam. Acredita-se que são inconsistentes e contraditórias; mas elas
não são. É simplesmente a culpa do nosso julgamento fraco. Duas verdades não
podem ser contraditórias. Se, então, acho ensinado em um lugar que tudo foi
pré-ordenado, é verdade; e se achar em outro lugar que está sendo ensinado que
o homem é responsável para todas as suas ações, é verdade; e é a minha grande
tolice que me leva a imaginar que duas verdades podem se contradizer. Não
acredito que essas duas verdades jamais poderão ser amalgamadas numa só sobre
qualquer bigorna humana, mas elas serão uma só, na eternidade: são como duas
linhas que são tão paralelas, que a mente que persegui-las o mais longe
possível, nunca descobrirá que elas convergem; mas elas convergem sim, e se
encontrarão em algum lugar na eternidade, perto do trono de Deus, de onde nasce
toda verdade ” (C.H. Spurgeon, New Park Street
Pulpit, Vol. 4 (1858), p. 337).
“Homens com uma ansiedade mórbida de ter uma crença coerente, uma crença
que se ajunte para formar um quadrado como um quebra-cabeça chinês, - são muito
aptos a estreitar as suas almas. Aqueles que somente acreditam naquilo que eles
podem reconciliar necessariamente duvidarão muito quanto à revelação divina.
Aqueles que recebem pela fé tudo o que eles encontram na Bíblia receberão duas
coisas, vinte coisas, ou vinte mil coisas, apesar de não conseguirem construir
uma teoria que possa harmonizá-las todas” (C.H. Spurgeon, “Faith,” Sword and Trowel, 1872).
2.2 - O CÉU PARA AS CRIANÇAS DE SPURGEON
E O INFERNO PARA AS CRIANÇAS DE JOÃO CALVINO
Calvino afirmou:
"Assim, até mesmo os bebês trazendo sua condenação com
eles desde o ventre de sua mãe (...). Pois, embora eles ainda não
produziram os frutos de sua própria injustiça, eles têm a semente implantada
neles. Não, toda a sua natureza é, por assim dizer, o sementeiro do pecado e,
portanto, não pode deixar de ser odioso e abominável a Deus, por
isso, segue-se que ele está corretamente considerado pecaminoso aos olhos de
Deus; não poderia haver condenação sem culpa"
(2.1.8. As institutas).
Spurgeon disse:
"Alegro-me em saber que as almas de todos os bebês, assim que eles morrem,
aceleram o seu caminho para o Paraíso" ( Autobiografia de
Charles H. Spurgeon, Curts &
Jennings, Cincinnati - Chicago - St. Louis, 1898, Vol. I. p. 175).
A Bíblia diz: “Mas Jesus, chamando-os para si, disse: Deixai vir a mim os meninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus.” - Lucas 18:16.
3 - ALGUNS ERROS DE SPURGEON
3.1 - A CONTAGEM DOS REMIDOS
As palavras de Spurgeon:
"Eu acredito que haverá mais no céu do que no
inferno. Se alguém me pergunta por que eu
acho que sim, eu respondo, porque Cristo, em tudo, deve "ter a
preeminência ', e eu não posso conceber como ele poderia ter a
preeminência se há de ser mais nos domínios de Satanás do que no paraíso"
(Autobiografia de Charles H. Spurgeon, Curts & Jennings, Cincinnati - Chicago - St.
Louis, 1898, Vol. I. p. 174).
As palavras da Bíblia Sagrada:
“Entrai pela porta estreita; porque larga é a
porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram
por ela; E porque estreita é a porta, e apertado
o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem” -
Mateus 7:13-14.
Conclusão: Entre Cristo e o príncipe dos
pregadores eu fico com Cristo -
Há algum pregador que queira justificar Spurgeon?
3.2 - JOÃO BATISTA OU JOÃO CALVINO?
A revista Puritanos XVII Nº 2 - 2009 - Pg. 2. Traz uma citação de
Spurgeon extraída do livro “A Arte Expositiva de João Calvino” - Steven J.
Lawson - Editora FIEL. Vejamos a citação: “Entre
todos os nascidos de mulher, não houve ninguém maior do que João Calvino;
nenhuma época anterior à dele jamais produziu alguém igual a ele, e nenhuma
época depois dele viu um concorrente seu” - Charles Haddon Spurgeon
As palavras de Jesus: “Em verdade
vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do
que João o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que
ele” – Mateus 11:11.
Conclusão: A capa do livro citado na revista traz o seguinte texto “Um perfil de homens piedosos”, algo que ironicamente não se encaixa com a biografia de João Calvino, por conta de alguns episódios que marcaram a carreira deste ilustre reformador.
Vejamos alguns equívocos que o João Batista bíblico jamais cometeu:
João Batista nunca interferiu no governo do
estado ao qual pertencia.
João Batista nunca promoveu perseguição religiosa
a grupos que também seguiam a Jesus.
João Batista
nunca pregou que haveria infantes no
inferno.
João Batista nunca defendeu o batismo infantil.
João Batista nunca pregou a morte para os “hereges”.
João Batista nunca queimou médico espanhol em fogueira de inquisição protestante.
Um dos pastores reformados mais respeitados do Brasil publicou uma obra na qual declara que João Batista foi o maior homem do mundo (confira aqui). Se o texto de João 7:24 consiste no melhor modelo para julgamento cristão, creio que o referido pastor está absolutamente correto e Charles Spurgeon errado em suas considerações. O que não o desqualifica como pregador do evangelho... Todos os homens erram.
3.3 - O ORGULHO CALVINISTA DE SPURGEON
Spurgeon disse: "Não
há nenhuma alma viva que detém mais firmemente as doutrinas
da graça do que eu....
" (Autobiografia de Charles H. Spurgeon, Curts & Jennings,
Cincinnati - Chicago - St. Louis, 1898, Vol. I.p. 176).
A Bíblia diz: “Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas, Mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me entender e me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor” - Jeremias 9:23-24.
Arminianismo: A mecânica da salvação - Silas Daniel - CPAD
4 - CONCLUSÃO
O reino de Cristo é diferente dos reinos deste mundo e os seus súditos precisam mostrar uma conduta exemplar, condizente com o perfil do seu Senhor. Com os acertos de Spurgeon aprendemos que o homem de Deus precisa ser coerente com a palavra de Deus, não manipulando o evangelho. Com os erros de Spurgeon aprendemos que a confiança cega em uma corrente teológica pode levar o cristão a praticar graves heresias contra a palavra de Deus e o verdadeiro ensino bíblico. O verdadeiro ensino bíblico (existe o falso) é o único que interessa ao povo de Deus.
Os homens são falhos (mesmo aqueles que são fiéis a Deus), mas caminhar na direção da cruz e do crucificado é obrigação de todo cristão que descobriu que a salvação é somente pela graça.
Que Deus nos abençoe!
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